Por Guilherme Rajão
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A candidata ao cargo de chefe do Executivo Municipal rio-grandino, Vera Mayorca (PSOL), concedeu, na manhã desta terça-feira (06), entrevista ao programa Giro Oceano. O momento integra o projeto "Eleições 2020 Grupo Oceano - Sua escolha, nosso futuro!" que contempla entrevistas com os oito candidatos no Giro Eleições, além da realização do "Grande Debate", marcado para o dia 10 de novembro, a partir das 20h no Hotel Villa Moura Executivo.
Confira, na íntegra, a entrevista concedida pela candidata Vera Mayorca (PSOL) à Rádio Oceano:
1) Tema: Emprego
Pergunta: Rio Grande perdeu o Pólo Naval. O projeto da instalação de uma termelétrica está cada vez mais difícil. O comércio foi extremamente afetado pela pandemia. Candidata, como trazer emprego para a comunidade rio-grandina?
Resposta: "Bem, como acabaste de colocar, Rio Grande tem vivido ao longo de sua história em ciclos econômicos. Hora nós temos emprego, hora nós temos praticamente o pleno desemprego. Então vivemos nesse ciclo de emprego e desemprego. O que que nós do PSOL propomos? Nós propomos um programa de governo capaz de construir atividades econômicas baseadas principalmente no cooperativismo e no desenvolvimento social de novas alternativas de empregabilidade pelos princípios de economia solidária como autogestão e cooperação, o respeito ao meio-ambiente, práticas de comércio justo e consumo consciente. Então, como fazer isso? Pra fazer isto é preciso que nós também enviemos pra Câmara de Vereadores um projeto de criação de bancos comunitários. O que são estes bancos comunitários? São bancos voltados para o desenvolvimento da economia de comunidades de baixa renda. Vamos propor o fim dos privilégios das grandes empresas e incentivar as pequenas empresas com incentivo fiscal e linhas de crédito para estas micro-empresas que são elas que realmente possibilitam empregos, cooperativas, potencializando a comunidade local como fonte de emprego como o turismo, a pesca artesanal, a cultura e principalmente as cooperativas."
2) Tema: Pós-pandemia
Pergunta: A pandemia trouxe ao Brasil, e isso certamente inclui a cidade de Rio Grande, diversos prejuízos em todos os setores. Quando esse momento passar, será necessário um projeto de retomada, de reorganização e planejamento. Candidata, qual o seu projeto para o momento pós-pandemia?
Resposta: "Sobre esse tema, nós do PSOL temos muito claro que nós não queremos um mundo que nós tínhamos antes da pandemia. Nós não queremos um Brasil e uma cidade igual a que nós tínhamos antes da pandemia. Por quê? Pois este mundo, esta cidade e este país, ele é um país de violência, ele é um país de desemprego, ele é um país de desigualdades. E nós sabemos que antes da pandemia os ricos ficaram muito mais ricos e os pobres ficaram muito mais pobres. Então nós precisamos em primeiro lugar para acertar este país é derrotarmos esse projeto genocida, este projeto perverso do Governo Federal que nós temos instituído neste país. Nós precisamos de um país e de uma cidade com emprego, saúde e educação de qualidade. E por isso é preciso políticas públicas claras onde a comunidade do Rio Grande que é uma comunidade valente, valorosa, que junto de uma gestão, uma gestão séria, de uma gestão que tenha acordos com a comunidade, que esta comunidade junto decida onde vai se investir o dinheiro. Dinheiro existe nesse país, ele só não está nas mãos daqueles que precisam mais. Ele está nas mãos de 1 ou 2% de gente deste país e nós queremos que esse dinheiro venha pra nós. Nós é que temos que estar com eles, com esta grana, com este dinheiro."
3) Tema: Mobilidade Urbana
Pergunta: Rio Grande sofre, historicamente, com a questão do transporte coletivo. No mundo, a cada dia, diversas alternativas surgem como forma de diminuir os problemas relativos a essa questão. Qual o seu projeto para que tenhamos uma melhor mobilidade urbana?
Resposta: "Historicamente, Rio Grande tem problemas sérios de mobilidade urbana. Mobilidade urbana não é só transporte público, mas é essencialmente transporte público. Então o que nós temos aqui nessa cidade? Nós temos um monopólio do transporte, nós temos preços abusivos de transporte, nós temos um transporte precário, nós temos um transporte sem segurança, nós temos um deslocamento da frota mal planejado. Então pra isso o que é importante fazer? Primeiro, acabar com o monopólio. Segundo, nós precisamos construir um conselho de mobilidade urbana capaz de discutir, de resolver, um Conselho Deliberativo que escute cada uma das comunidades para que nós possamos ter claro como vivem as pessoas, como são transportadas quem mora na Querência, quem mora na São João, na São Miguel, em todos os bairros da cidade. E para isso nós precisamos municipalizar esse transporte. Nós precisamos construir ciclovias que alcancem toda a cidade do Rio Grande, pois nós temos essa possibilidade por ser uma cidade extremamente plana. Nós podemos ter ciclovias que venham lá da beirada da Quinta até o paço municipal. Isso vai desafogar. E uma frota de transporte realmente que nos dê segurança, que tenha qualidade, desafoga o trânsito na cidade, usa menos carros e mais transporte público."
4) Tema: Educação
Pergunta: A educação, setor fundamental dentro de um plano de governo, precisa de uma atenção ainda mais especial após a pandemia. Qual a sua proposta para a retomada das aulas levando em consideração o calendário escolar?
Resposta: "Bem, eu diria que é muito simples entender o motivo da educação, além de todos os outros temas é muito cara para nós e é muito cara para mim. Professora durante praticamente 40 anos da minha vida, eu diria que nós só podemos retomar a educação quando houver uma vacina, quando nós não tivermos nenhum medo que nenhum professor, nenhuma professora, nenhuma criança, nenhum adolescente possa sofrer a pandemia, possa morrer de coronavírus. Bem, propostas de calendário escolar isso é possível de se organizar com a comunidade escolar. Quem tem que decidir que calendário é este que teremos no pós-pandemia. Isto são os educadores, educadoras, todos os trabalhadores da área da educação e os estudantes e familiares, são essas pessoas que vão decidir como fazer, qual o momento de fazer isso. Mas acima de tudo defendemos que todos e todas professores e professoras precisam primeiro ter um bom salário, ter o piso nacional da categoria. Isto é fundamental. Segundo elemento que é muito caro e que nós defendemos: nenhuma terceirização dentro das escolas. A escola pública não pode ter nenhum trabalhador, nenhuma trabalhadora terceirizada. Isso passa pelos professores e professoras, pelas merendeiras, por quem faz o trabalho de manutenção, o porteiro, a porteira dessa escola precisa ser concursada."
5) Tema: Saúde
Pergunta: A pandemia evidenciou uma série de problemas estruturais em todo o nosso país. Em Rio Grande, não foi diferente. Nossos hospitais, principalmente a Santa Casa, não suportaram a alta demanda que o momento pedia. Qual seu plano para que avancemos efetivamente no setor da saúde?
Resposta: "Eu diria e eu tenho certeza e afirmo que a pandemia só escancarou a precariedade da saúde pública do país e em Rio Grande. Nós sabemos que a nível nacional o Governo Federal tem feito cortes absurdos para a saúde pública e o sucateamento do SUS. Mas nós dizemos que tem uma forma de resolver e melhorar a saúde pública de Rio Grande. Primeiro lugar passa pela compreensão de que a saúde pública é um direito humano fundamental e que ela, assim como a educação, são duas bases para que se possa realmente ter uma cidade onde seja possível viver com qualidade de vida. Para isso, é necessário que a saúde básica seja a primeira bandeira a ser fortalecida na cidade. Se tivermos uma boa saúde básica, uma saúde primária, sabemos que ela é capaz de evitar 80% das doenças e nós sabemos que é muito mais fácil prevenir doenças do que tratar doenças. E nós temos todas as possibilidades nessa cidade de concretizar isso, é investir nos trabalhadores e trabalhadoras da saúde pública dessa cidade e principalmente não terceirizar nenhum trabalhador da saúde pública de Rio Grande. Nós precisamos ter trabalhadores e trabalhadoras efetivos, que possam desenvolver e aperfeiçoar dentro da sua área, do seu espaço."
Considerações Finais: "Bem, enquanto mulher, enquanto mulher candidata e enquanto tendo uma vice também candidata mulher que é minha grande companheira Cláudia Peixoto, nós dedicamos este último momento às mulheres dessa cidade que são maioria. Essas mulheres que são mães, filhas de alguém, então uma homenagem às mulheres da nossa cidade e eu digo que construiremos e vamos colocar em prática políticas públicas capazes de resolver e voltadas principalmente para as mulheres. Mas que mulheres? As mulheres pobres, as mulheres trabalhadoras domésticas, as mulheres agricultoras, as mulheres pescadoras, as mulheres educadoras, das mulheres que abrem e fecham a cidade na limpeza, das mulheres que trabalham no comércio, na indústria, das mulheres trabalhadoras do sexo, das mulheres negras, das mulheres trans, das mulheres lésbicas, das mulheres com doenças crônicas, das mulheres idosas, das mulheres indígenas, das mulheres grávidas, das mulheres na situação de prisão, das mulheres que tem familiares em situação de prisão, das mulheres de rua, das mulheres adolescentes. Vamos propor estratégias para conscientização da comunidade para que possamos desconstruir e enfrentar a violência doméstica, a violência obstétrica, a violência da misoginia, do machismo, a violência da homofobia e a violência do racismo."